Vocês lembram que há uns anos surgiu no facebook um aplicativo simulando como seria nossa imagem ao envelhecer? Na mesma hora minha timeline encheu de bons velhinhos e eu disse: não faço, não entrego meus dados à toa. Fui criticada, porque era só uma brincadeira, mas ninguém tinha lido as letras miúdas ao baixar o app, onde vc concordava, expressamente, em ceder seus dados e ainda dava acesso aos “seus amigos”.

Pois agora a moda é o Lensa, app de Inteligência Artificial que cria avatares com as fotos do usuário e já caiu na boca do povo, mesmo sendo pago. Esse app usa o processo de Diffusion, que capta um padrão de ruídos e vai removendo detalhes, comparando e combinando com outras imagens. Para isso a IA precisa ser treinada com milhares e milhares de imagens.

E qual o problema?
O primeiro, você está pagando para uma empresa coletar seus dados, autorizando o uso dessas informações para desenvolver novos produtos baseados em IA. Um dos dilemas atuais da sociedade é o erro constante no uso de inteligência artificial para fazer reconhecimento facial. No Brasil, a justiça autorizou o metrô de SP a usar esse sistema, mas o perigo aos usuários é enorme, por segurança de dados e violação de direitos humanos, especialmente por questões de racismo estrutural.

O segundo, a dismorfia, distúrbio de alteração de autoimagem, que afeta a percepção da pessoa sobre si mesma. A dismorfia causada pelas redes sociais afeta principalmente jovens e adolescentes. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), nos últimos dez anos ocorreu um aumento de 141% de cirurgias plásticas realizadas entre jovens de 13 a 18 anos de idade. Boa parte disso se dá porque, usando os filtros das redes sociais, as pessoas ficam viciadas nessa imagem distorcida e não aceitam a si próprias como realmente são. Nesse novo app de avatares por IA, o que se nota, principamente, é a suavização da pele, afinamento do nariz, aumento dos se1os, volume irreal nos cabelos. Tudo isso estimula a dismorfia.

E você, já fez seu avatar? Não vou fazer o meu, mas me mostra o seu porque eu sou curiosa!

Por Cindia Regina Moraca, Advogada civilista, especialista em Direito de Família e Reputação Digital.